Alimentação saudável no combate a intolerância a lactose

 

Leite: fonte de lactose.
Leite: fonte de lactose.

 

Lactose e Lactase: como se combinam?

 

A hidrólise da lactose ocorre por ação da lactase presente nas microvilosidades intestinais, que é convertida em galactose e glicose. Entretanto, algumas pessoas apresentam deficiência dessa enzima, sendo consideradas intolerantes à lactose.

 

A intolerância à lactose é muito frequente em escala mundial, podendo atingir, em alguns casos, 90% da população. SHAH (1993) relatou que a deficiência da lactase é comum entre populações asiáticas (98% nos tailandeses, 97% nos chineses, 99% nos japoneses e 67% nos indianos).

 

Entre os caucasianos a prevalência de intolerância à lactose é de cerca de 15%. Acomete também negros africanos (72%), norte-americanos (70%) e índios. A deficiência ocorre também normalmente com o envelhecimento pela atrofia da mucosa do intestino delgado.

 

Contudo, a diminuição da atividade da lactase em adultos é um evento programado, sugerindo que eventos translacionais podem ser de grande importância na expressão do gene da lactase.

 

Além disso, essa deficiência pode ser atribuída à inflamação da mucosa intestinal, originada de alguma doença como: enterite, colite, doença de Crohn.

 

A lactase também pode sofrer diminuição pelas seguintes causas: enteropatia induzida por glúten, infecções parasitárias ou após terapia com antibióticos e procedimentos cirúrgicos, incluindo gastrectomia, ressecamento excessivo do intestino e tubo gástrico.

 

Principais Sintomas

A lactose não digerida permanece no intestino onde sofre ação de bactérias fermentativas, ocasionando a formação de ácido lático e outros ácidos graxos voláteis, causando irritabilidade intestinal, flatulência, distenção abdominal, cólicas e em alguns casos pelo efeito osmótico da dissacarídese, que atrai água para dentro do lúmem intestinal, ocorrendo má absorção dos nutrientes (proteínas, gordura, vitaminas e minerais).

 

As mulheres com intolerância à lactose podem apresentar além desses sintomas característicos, tensão pré-menstrual e depressão mental.

 

LEDOCHOWSKI et al. (1998) analisando 30 mulheres, observaram que as que possuíam intolerância à lactose, apresentaram índice de depressão mental significativamente maior no questionário Beck que as mulheres com absorção normal. Esses dados sugerem que a intolerância à lactose pode exercer função no desenvolvimento da depressão.

 

Nos indivíduos intolerantes à lactose, altas concentrações de lactose intestinal podem interferir no metabolismo do L-triptofano e na disponibilidade de serotonina. A intolerância à lactose deve ser considerada em indivíduos com sinais de depressão mental.

 

 

Avaliação Laboratorial

 

As pessoas geralmente podem identificar um desconforto associado a digestão da lactose, porém a deficiência da lactase somente pode ser diagnosticada clinicamente com o teste de hidrogênio expirado (mede a produção de hidrogênio pela bactéria do cólon na presença de açúcares não absorvidos), ou o teste de ingestão oral com determinação da lactose (os níveis de glicose plasmática são mensurados antes e 1 a 2 horas após a ingestão de 50g de lactose, valores inferiores a 20 mg/dl identifica a intolerância à lactose).

 

Orientação Nutricional

 

Uma dieta controlada no seu conteúdo de lactose é adequada para a prevenção ou redução dos sintomas dos indivíduos intolerantes à lactose.

 

Pequenas quantidades de lactose dietética, como o consumo máximo de 250 ml de leite, pode ser tolerada pela maioria dos adultos intolerantes à lactose.

 

Em um estudo com indivíduos com idade entre 65 e 89 anos, o hidrogênio expirado foi mensurado em resposta a 100 ou 200 g de carboidrato para se estimar a má absorção de carboidrato (FEIBUSCH & HOLT, 1982).

 

Na maior carga de ingestão do carboidrato, o hidrogênio expirado aumentou em 80%. O aumento do hidrogênio expirado encontrado na maioria das pessoas idosas poderia resultar em má absorção do carboidrato com o passar dos anos e/ou aumento da atividade enzimática bacteriana no intestino delgado.

 

A diminuição da atividade da lactase que ocorre com o passar dos anos, pode criar pequenos problemas já que indivíduos intolerantes à lactose podem tolerar a lactose presente em um copo de leite (12,5 g) (DEBONGNIE et al. 1979).

 

Os rótulos dos alimentos devem ser lidos cuidadosamente para se identificar as fontes de lactose. As principais fontes de lactose são o leite, soro, coalhada, fermentos, nata, manteiga, etc. Outras fontes possíveis de lactose são os adoçantes e medicações.

 

Produtos lácteos com conteúdo de lactose reduzida estão disponíveis no mercado e são substitutos adequados dos produtos convencionais que contém lactose.

 

Os produtos comerciais estão disponíveis em vários graus de redução da lactose. Uma redução de 50% da lactose pode ser adequada para aliviar os sinais e sintomas da intolerância ao leite na maioria dos indivíduos saudáveis com má absorção da lactose.

 

Sugere-se que o iogurte é tão efetivo como o leite com lactose hidrolizada para se aliviar os sintomas de intolerância à lactose.

 

A atividade da lactase nos iogurtes pode variar. Iogurtes que possuem culturas endógenas após a pasteurização contém maior atividade enzimática da lactase. Os produtos da soja são excelentes opções para os indivíduos com intolerância à lactose.

 

As isoflavonas da soja têm demonstrado serem efetivas na prevenção da osteoporose. Populações asiáticas, cujo consumo de soja é predominante, demonstram menor prevalência de fratura do quadril em relação às populações americanas (BRANDI, 1997; ANDERSON et al. 1998; ). QUAK & TAU (1998) demonstraram efeitos benéficos do uso de fórmulas de soja e produtos de soja em crianças asiáticas com deficiência de lactase, devido principalmente ao alto valor nutritivo e a palatabilidade desses produtos.

 

Nas dietas asiáticas, embora ocorra alto consumo de soja, ele está dento do recomendado pelo FDA. Além disso, a soja apresenta boa biodisponibilidade com o cálcio, apesar de conter altas quantidades de oxalato, fibra e fitato (BELL et al. 1993).

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. ANDERSON, JJ et al. Biphasic effects of genistein on bone tissue in the ovariectomized, lactating rat model. Proceedings of the Society for Experimental Biology & Medicine, 217: 345-350, 1998.
  2. BELL NH et al. Demonstration of a difference in urinary calcium, not calcium absorption, in black and white adolescents. J. Bone Miner Res., 8: 1111-1115, 1993.
  3. BRANDI, GL. The potential use of a dietary soy supplement as a post-menopausal hormone replacement therapy. 2nd International Symposium on the Role of Soy in Preventing and Treating Chronic Disease, Brussels, Belgium, 1996.
  4. DEBONGNIE JC et al. Absorption of nutrients in lactase deficiency. Dig. Dis. Sci., 24 (3): 225-231, 1979.
  5. FEIBUSCH JM & HOLT PR. Impaired absorptive capacity for carbohydrate in the aging human. Dig. Dis. Sci., 27 (12): 1095-1100, 1982.
  6. LEDOCHOWSKI, M et al. Lactose malabsorption is associated with early signs of mental depression in females: a preliminary report. Dig. Dis. Sci., 43 (11): 2513-2517, 1998.
  7. QUAK SH & TAU SP. Use of soy protein formulas and soy food for feeding infants and children in Asia. Am. J. Clin. Nutr., 68 (Suppl 6): 1445-1465, 1998.
  8. SHAH, N. Effectiveness of dairy products in alleviation of lacatose intolerance. Food Australia, 45 (6): 268-271, 1993.

 

Fonte: http://sentirbem.uol.com.br/index.php?modulo=artigos&id=781&tipo=1

 

 

 

Os profissionais da área da saúde são os indicados para avaliar a sua dieta.